Como todos sabem, o Brasil não tem neve. Fora um ou dois dias ao ano, em uma ou duas cidades catarinenses, neve é uma das poucas atrações que nosso país não oferece. Mas nem por isso os brasileiros se conformam, e vão buscar nos vizinhos a neve farta que não se tem por aqui. E eis que surge Bariloche, a mais brasileira de todas as cidades de neve em todo o mundo, e não por acaso apelidada carinhosamente de Brasiloche.
Não é para menos. No inverno, milhares de brazucas desembarcam neste pequeno vilarejo montanhês em busca do ouro branco a neve. Mas só neve seria pouco. Bariloche tem muito mais a oferecer, e não é por acaso que se tornou o destino número 1 de brasileiros encapotados.
Para começar, vamos esclarecer: Bariloche NÃO é uma estação de esqui. É, como já disse, uma vila nas montanhas. E isso na verdade é bom, porque numa estação de esqui é normal o isolamento às vezes longo demais, especialmente para os mais urbanos ou agitados. Então, ponto para nossa Bariloche, que tem uma cidade inteira para oferecer. Com bares, restaurantes, cafés, lojinhas de souvenirs, lojas de artigos de couro, supermercados, shopping center... mesmo não sendo grande, é uma cidadezinha respeitável em termos de oferta de diversão (esqueci de mencionar as boates e baladinhas, mas elas estão lá, por supuesto...).
E todo esse agito está à beira de um grande lago chamado Nahuel Huapi, que empresta um charme à cidade. E, em volta, as montanhas (ou o topo delas, já que estamos na metade da subida), e seus picos nevados. Ponto para Bariloche, que consegue ter lagos e montanhas na vizinhança, coisa que estação de esqui nenhuma tem.
Bariloche também tem uma série de atrações paralelas, passeios de um dia ou de meio dia que ocupam o tempo e matam as chances de tédio. Subir no morro, navegar os lagos, ir para outro vilarejo... de Bariloche é possível. De uma estação de esqui, não. Mais um ponto para Bariloche.
Por fim, se você adora esquiar, ou quer dar suas derrapadas, Bariloche tem um centro de esqui, chamado Cerro Catedral, a apenas 20 minutos do centro. Placar final: 4 x 0, virou goleada. Ou seja, Bariloche tem esqui para quem quer, ou só neve, ou só frio, mas sempre com muita opção. Entendeu porque tanta gente vai para lá?
O tal centro de esqui de Cerro Catedral recebe seu nome pela enorme montanha, a maior da região, onde está encostado. Turistas chegam de carro até a base do morro, e de lá sobem pelo teleférico até a base 1 ( e de lá para outras pistas). Você pode alugar sua roupa de neve, seus esquis ou snowboard e se aventurar. Mas, se nunca fez isso, vá devagar. A neve e o gelo escorregam mesmo, e esqui não tem freio. Vale a pena investir em aulas com os instrutores locais antes de sair para as pistas.
Se não tem tempo nem paciência para aprender os esportes de inverno, pode simplesmente alugar uma bóia, sentar em cima e escorregar. Fácil e divertido mas, novamente, sem freio. Você é o freio.
Muita gente sobe o teleférico principal até a base 1 e por lá fica. Brinca um pouco na neve e quando a mão gela entra no café (estrategicamente colocado) e se joga num chocolate quente. Não é má idéia.
Além de Cerro Catedral há outros lugares onde dá para brincar na neve. Por exemplo, Cerro Otto, outra montanha na qual se pode subir e observar a paisagem andina, enfiando o pé na neve fofa. Há a opção de um jantar romântico numa cabana rústica, iluminada pela lareira.
Outra opção é Piedras Blancas, uma espécie de play ground nevado, excelente opção para ir com a criançada. Lá, as bóias escorregam por trilhas preparadas, diminuindo a chance de descontrole. Junte a isso um boneco de neve, uma guerra de bolas e voilá - você está em férias com a família.
Mas apesar de ser a maior atração, nem só de neve vive Bariloche. Alguns passeios são feitos a seco se é que uma travessia de lago pode ser chamada de seca.
Um passeio famoso é cruzar diversos lagos e chegar até o Chile, que está ali do lado. Um silêncio enorme toma conta do barco que cruza ao lado de paredões de pedra. Porém, não tente reproduzir a cena de Titanic, ficando na proa do barco de braços abertos. Você vai ficar congelado. O vento frio é cortante, e recomendamos enfaticamente outro chocolate quente, dentro do barco, que convenientemente tem grandes janelões.
Se não quiser gastar o dia inteiro em um barco, há passeios de meio dia até ilhas como a Vitória, ou até cachoeiras formadas pelo degelo da neve. Os dois são lindíssimos.
Outros passeios podem ser feitos de carro. É o caso da Villa Angostura, um povoado na parte norte do mesmo lago Nahuel Huapi de Bariloche. Esta cidadezinha, que parece de mentira, tem todas as construções feitas em madeira no estilo alemão da Baviera, e se esmera na produção de chocolatinhos, geleinhas e outras coisinhas mimosas.
Villa Angostura toma um dia de passeio. Mas o Circuito Chico (o circuito pequeno), é um clássico passeio de meio dia, incluído na maioria dos pacotes, que percorre as redondezas de Bariloche e dá uma pincelada na região. Inclui a visita a uma capelinha de madeira próxima ao hotel Llao Llao (famoso e fotogênico, com um lindo campo de golfe) e também uma subida de teleférico a um mirante, onde se tem uma linda vista dos lagos e montanhas e mais uma cafeteria. Chocolate quente, por favor!
Toda viagem de inverno só está completa se incluir comida de inverno. E isso Bariloche tem para oferecer. Como por exemplo:
Foundue a delícia suíça deita de queijo fundente é fartamente achada nos restaurantes locais. As opções de chocolate e carne também, assim como a prima do foundue, a raclete.
Truta Nos lagos montanheses se pesca peixes de água fria (gelada, na verdade). A mais famosa é a truta, preparada na brasa ou mais ao estilo da cozinha francesa.
Carne Ei, estamos na Argentina, certo? Então tem que ter a parrilla, o churrasco argentino.
Mais carnes Você também pode pedir uma peça, como o famosíssimo bife de chorizo, conhecido por aqui como contra-filé. Vá com fome, são cortes generosos.
Outras carnes Também se encontra a comida patagônica (apesar de Bariloche não estar Patagônia). Carne de carneiro é a mais comum.
Chocolatinho Além do chocolate líquido para beber (já tomamos três só neste texto), o chocolate em barra também é famoso. À moda dos chocolates de Gramado ou Campos do Jordão, em barrinhas pequenas de diversos sabores. Bom para comer, bom para levar para casa, bom para dar de lembrança.
Com exceção do chocolate, todas as comidas acima podem ser acompanhadas por um bom vinho, argentino de preferência.
Eu mencionei que Bariloche e região tem diversas geleinhas. Não é por acaso, já que os bosques são pródigos em frutas como mirtilo, framboesa, morango e similares. Mas de todas as frutas do bosque, a mais famosa é a rosa mosqueta. Aqui, a rosa mosqueta é famosa em tratamentos de cosmética. Lá, além da beleza, é usada em chás, geléias e outros produtos alimentícios.
Bariloche, como bom centro turístico, possui cassino. Muita gente se preocupa em ter que alugar um smoking para poder jogar na roleta (James Bond sempre vai de smoking a cassinos), mas fique tranqüilo: você pode freqüentar usando seu casaco preferido, sem maiores formalidades.
Já para a neve, aí sim, você vai precisar de roupa especial. Calça jeans e blusa de lã não dão conta, você precisará de um macacão impermeável. Diversas lojas na cidade alugam a roupa. Mas atente que na cidade é raro nevar. Então, o macacão só é útil nos passeios a Cerro Catedral, Cerro Otto, Piedras Blancas... Andar como o boneco da Michelin em plena Bariloche é absolutamente desnecessário.
Falando em roupas, uma ótima opção é comprar casacos de lã ou de couro por lá. Os preços são sempre convidativos, e você vai ficar de acordo com a moda local.
Por fim, uma preocupação que você não precisa ter é com o idioma. Todos por lá falam o portuñol da melhor qualidade. E vão ter a maior boa vontade de entender você, turista brasileiro. Afinal, Bariloche pode ser uma cidade argentina, mas durante o inverno ela realmente muda de nome viva Brasiloche!