Viagem para Bolívia
Da janela do avião, o cume das montanhas eternamente cobertas de neve parecem estar ao alcance da mão. E quase estão, se considerarmos que o aeroporto de El Alto, em La Paz, fica a 4100 metros de altitude. Já está sentindo-se um condor encarapitado no alto dos Andes? Então se prepare, porque ao desembarcar seus pulmões vão precisar de algum tempo para se adaptar a respirar em ambiente de oxigênio rarefeito. Mas também não é preciso se preocupar. Basta evitar, de início, os esforços físicos e neutralizar os sintomas do soroche, ou mal de altitude, como chamam por lá, com o chá de coca. Ou, se quiser fazer como um típico boliviano, mascar as folhas de coca (vendidas em barracas, pela rua) no canto da boca. Uma vez aclimatado, é hora de descobrir La Paz, a capital administrativa da Bolivia que é também a metrópole mais indígena da América do Sul: reunindo cerca de 30 etnias, grande parte descendente dos aimaras, como o famoso Evo Morales.Caminhar por La Paz possibilita testemunhar inúmeros contrastes; as cholas, as mulheres de cabelos muito escuros presos em longas tranças com o típico chapéu coco, saias sobrepostas, mantos coloridos aos quais prendem os filhos às costas caminham em meio aos belos edifícios modernos, carros importados, fast foods; das lojas da moda às barracas dos camelôs que falam espanhol, o idioma oficial e também aimara, quíchua, guarani. E, quem pensa que música boliviana se resume àquele estilo andino, com flautas de madeira, engana-se. Em La Paz há muitas bandas de rock, grupos de jazz e blues que se apresentam em diversos endereços.Para entender como é esta cidade se espalhou ao longo de um profundo vale basta ir ao mirador Killi Killi, que fica no bairro de Villa Pabón e ver, em panorâmicos 360º, a cidade de muitas ladeiras rodeada de montanhas e picos nevados dos Andes e repleta de casas com tijolo aparente que dão um colorido peculiar à cidade.Calçamento de pedras e fortes inclinações nas ladeiras exigem preparo físico, em La Paz. Está a fim de fazer compras? Então vá à calle Sagárnaga que é abarrotada de lojas onde é possível comprar suéteres, chapéus (inclusive como o das cholas), bolsas, têxteis e souvenirs. Nessa rua também ficam lojas de artesanato, cybercafés, hotéis. Caminhando da calle Sagárnaga para a calle Lenares você topará com o Mercado das Bruxas, outra atração da cidade que acontece todos os dias. Ervas, poções mágicas, amuletos. (sapos para sorte, tartarugas para longa vida, corujas para sabedoria) e itens exóticos como o feto de lhama estão ali à venda, prometendo sorte e proteção. Afinal, como dizem por lá, no lo creo em las brujas pero que lãs hay, las hay.O passado colonial da cidade (fundada pelos espanhóis em 1548) está presente na Igreja de São Francisco, um belíssimo exemplar do barroco mestiço com fachada totalmente entalhada em pedra, datada do século 16 e nos arredores da Plaza Murillo, onde ficam a Catedral, o Palácio do Governo e o Congresso e que merecem ser visitados E, se arte estiver em pauta, boas opções são o Museu Costumbrista, o Museu do Ouro, o Museu Nacional de Arte, o Museu Arqueológico ou o Museu Casa de Murillo. Outra atração da cidade é o Museu de La Coca, no centro de La Paz , que conta tudo sobre a polêmica erva: do seu uso medicinal pelas populações nativas, do inocente chá à cocaína, sua dependência e tratamento.
Por perto
Bem pertinho do centro de La Paz - pouco mais de 10 km - fica o Valle de la Luna, uma impressionante formação rochosa que, por ação da erosão dos ventos ganhou um aspecto que bem poderia ser um cenário lunar. É um passeio de meio dia que sempre agrada pela caminhada através dessas formações com diferentes formas.Outra opção a apenas 45 minutos de La Paz é o Valle de las Animas ou Vale das Almas - outra formação geológica estranha, onde é possível caminhar entre essas torres e grutas através das quais o vento assobia, dando um aspecto assombrado ao local.Outra opção relativamente perto de La Paz são pouco mais de 70 km ou duas horas em rodovia - é o Parque Arqueológico de Tiahuanaco onde estão importantes vestígios da milenar cultura do antigo Império Tiahuanaco. No Parque, museus e restos de construções de pedra feitas pelos Tihuanacotas, uma avançada civilização estabelecida junto ao lago Titicaca e surgida há quase 4 mil anos, que conhecia astronomia, agricultura, construía templos e pirâmides e que, como tantas outras, acabou desaparecendo. Aliás, o Titicaca é outra atração imperdível. Este imenso lago absolutamente azul a mais de 3800 metros de altitude que faz fronteira com Bolívia e Peru merece uma visita demorada seja para apenas contemplar aquela imensidão, seja para visitar as suas ilhas ou para conhecer lugares como a pitoresca Copacabana. Isso mesmo, da Nossa Senhora de Copacabana, padroeira do país (uma imagem dela veio parar no Brasil e deu origem ao bairro carioca) e de onde partem barcos para a Isla do Sol, a ilha sagrada dos Incas e Ilha da Lua, que conservam monumentos arqueológicos.
Esqui nas alturas
Chacaltaya, a apenas duas horas de La Paz é uma agradável surpresa para esquiadores,a pista mais alta do mundo, a 5.265 metros de altitude e com visão panorâmica magnífica de onde se avistam lagoas de águas cristalinas, parte da cordilheira Real e ainda La Paz. Mas fique atento: em Chacaltaya o esporte é permitido apenas em algumas épocas do ano e proibido nos meses de inverno quando as tempestades de neve são mais fortes.
Outras opções nas alturas
Como tantos outros lugares da Bolívia, Potosi, outra cidade do roteiro turístico da Bolívia também fica mais de 4 mil metros acima do nível do mar com clima rude do altiplano e frio praticamente o ano inteiro. Há quem diga que Potosi é a mais boliviana das cidades desse nosso vizinho a noroeste, com população índia e mestiça e minas de estanho que são uma das riquezas do país e também um fator de atração do turismo.No sudoeste da Bolívia, próximo a Potosi fica um dos mais incríveis cenários bolivianos: a Salar de Uyuni. Imagine 12 mil quilômetros quadrados de deserto. Só que, ao invés de areia, sal. Grandiosamente belo, assim é o Salar do Uyuni, a maior planície salgada do planeta, instalado a 3 650 metros acima do nível do mar. Durante muito tempo apenas uma reserva mineral, fonte de extração de sal (que ainda é), o Salar passou a ser um dos mais desejados destinos dos viajantes que querem paisagens insólitas e experiências únicas. No Salar de Uyuni o silêncio é absoluto a ponto de se ouvir a própria respiração e os próprios passos na imensidão branca sob o céu azul. A crosta dura de 10 metros de sal a profundidade total é de 120 metros, intercalado com água - permite que nele trafeguem carros e, na época das chuvas, uma fina camada de água transforma o salar num imenso espelho que reflete o céu e dá ao viajante a sensação de estar pisando em nuvens. Como se tudo isso ainda não bastasse, o salar ainda abriga ilhotas como a Ilha do Pescado onde crescem cactus gigantes de até dez metros de altura tornando a paisagem ainda mais bizarra. No Salar de Uyuni, como em outras localidades da Bolívia, graças às grandes altitudes, o clima é de verões de no máximo 20 graus e invernos de até 25 graus negativos.Onde mais ir? Sucre, a capital oficial da Bolívia, guarda belos exemplares da arquitetura colonial, é uma cidade universitária, com muitos jovens e, consequentemente, muita animação.
Comer e beber
Variada, rica e desconhecida. Assim é a culinária boliviana se comparada com a cozinha do México, Peru ou Chile. Chamada de creola, esta culinária capricha na pimenta e nos sabores. A Salteña é, sem dúvida o prato mais popular, um tipo de empanada suculenta e alguns pratos tem nomes bem divertidos como fritanga feita de carne com batatas ou o mondongo, sopa de miúdos de porco. Aliás, as sopas são bastante populares, ideais para aquecer o corpo no clima frio dos Andes. E as opções vão da sopa de amendoim, sopa cremosa de milho, sopa de carne e creme de leite ao Le Chairo, sopa feita com batata desidratada, carne de carneiro e charque além da sopa de quinua (o nutritivo grão típico dos Andes). Tudo isso e mais o extravagante Caldo de Cardan, sopa feita com os testículos do boi que, dizem, é afrodisíaca. Mas nem tudo é exótico. A truta do Titicaca é uma iguaria delicada e o surubim imbatível mas ainda há os ensopados picantes de porco ou galinha e muita batata. Para acompanhar? Cerveja de ótima qualidade feita água do degelo dos Andes ou os bolivianos vinhos de Concepcion, região vinícola que já exporta para a Europa e Estados Unidos. Exagerou na comida? Então o melhor será um reconfortante chá de coca. Afinal, estamos na Bolívia!