Vamos deixar claro: há Caribes e Caribes. E vamos deixar mais claro todos são lindos. O Caribe tradicional, no imaginário popular, é aquela ilha de vegetação exuberante, praias de areia branca e mar de água azul turquesa. No Caribe sul, porém, estão as ilhas que fogem a esta regra, o chamado Grande ABC do Caribe as ilhas de Aruba, Bonaire e Curaçao. As três formam as Antilhas Holandesas.
E aqui já dá para ver que são diferentes: a colonização não foi feita espanhóis, ingleses ou franceses, mas sim por holandeses. Por isso, a arquitetura colonial tem um estilo próprio (seria o colonial holandês?); as influências culturais são únicas (ninguém chega a andar de tamancos de madeira, mas dá para perceber a presença holandesa); a culinária, a língua, o jeitão... é um Caribe diferente.
Também é o Caribe mais próximo. As Antilhas Holandesas estão pertinho da costa da Venezuela. E essa esquina geográfica também afeta a geografia local: venta muito nas três ilhas, e bate um sol forte a maior parte do ano (elas estão bem perto da linha do equador). Essa mistura faz a vegetação local fugir do tropical exuberante e cair no semi-árido equatoriano. Sim, é mais fácil ver um cactus do que uma bananeira. Mas não me entenda mal a paisagem é bonita mesmo assim. É um contraste diferente, de pedra, areia e mar. Sim, porque em matéria de areia e mar, as Antilhas Holandesas não devem nada às suas primas caribenhas.
A maior das três ilhas é Curaçao. Assim mesmo, sem til, mesmo depois de um cê-cedilha. E pergunte a três nativos a origem deste nome, e terá três respostas diferentes. Uns apelam para a Ilha do amor, forçando a barra com a corruptela de Coração (mas a ilha NÃO tem forma de coração). Outros vão apelar para um antigo dialeto (que cá entre nós explica qualquer nome). A mais aceita, e mais provável, é que os marinheiros chegavam doentes à ilha, vítimas do escorbuto, e ao tomarem uma bebida local, se curavam. Daí a ilha da Curação. O til foi devidamente engolido com o tempo.
A tal bebida milagrosa era um licor feito com casca de laranja que, como se sabe hoje, tem vitamina C, que de fato cura o escorbuto. E o licor que começou a carreira como remédio permanece vivo até hoje o licor Curaçao, vendido em várias cores, sendo o Curaçao Blue o mais famoso. E nossa primeira dica de souvenir.
Por falar em comprinhas, Curaçao, assim como suas irmãs e várias de suas primas, é um porto duty free. Ou seja, você vai se esbaldar quando quiser comprar perfumes, bebidas, roupas de grife, cigarros. Só não se esqueça das cotas alfandegárias brasileiras.
A principal cidade de Curaçao é sua capital Willemstaad (olha o holandês aí). Ela circunda uma grande baía, que é também um ótimo porto. O estuário desta baía divide a cidade em dois blocos. O lado ao sul é chamado de Punda, (a ponta), e o lado norte de Otrobanda (o outro lado). Punda é o lado mais famoso e mais fotografado, porque na beira da baía está uma fileira de casinhas coloridas, que são cartão postal da cidade e do país. É a foto perfeita as casas coloridas, à frente delas as mesinhas na beira da baía, o pessoal bebericando no fim do dia, enquanto se reflete nas fachadas. Acrescente um barquinho passando e clique.
Embora as casinhas coloridas beira-mar sejam as mais famosas, todo o centro de Willemstaad segue a mesma linha arquitetura colonial holandesa multicolorida. Conta a lenda que um antigo governante determinou que as casas, outrora brancas, deveriam ser pintadas. O reflexo do sol na parede caiada afetaria a visão, e poderia causar cegueira. E toca a cidade inteira a pintar suas casas, para descobrir ao final que o tal governante era sócio na única fábrica de tintas da ilha... Se a lenda não é verdadeira, é pelo menos verossímil, e ao final a cidade ganhou outra vida com as novas cores.
Mas voltando ao bairro de Punda, é ele que abriga a maior parte das lojas duty free, os restaurantes mais bacanas, e até algumas galerias de arte como a da artista local Nena Sanchez, que pinta quadros supercoloridos (veja mais sobre artistas locais em http://www.curacao.com/The-Curacao-Difference/Our-People-and-Culture/Local-Artists). A maior parte do agito (tem uma pracinha em Columbustraat que é point da moçada) também está em Punda. E também o antigo forte, que um dia protegeu a baía e hoje protege o cassino adjacente.
Mas tem o outro lado Otrobanda. E para chegar até lá basta cruzar a ponte Rainha Emma. Fica bem ali, perto do tal forte e das casinhas coloridas. Se você não está vendo, não se assuste. A ponte é móvel, e abre para passagem de navios. Mas não é uma ponte levadiça (ainda bem, estragaria a paisagem), e sim ladiça, ou seja, ela se desloca para o lado e quando está 100% aberta parece ser uma extensão do cais. Mas a ponte só abre para passagem dos navios muito grandes, em geral petroleiros ou cargueiros que usam o fundo da baía como porto. Em geral, a ponte só dá uma abridinha pequena, para barquinhos menores. Se você tem pressa (é difícil ter pressa por lá) e precisa cruzar a baía, use as lanchas. São grátis e saem a cada dois minutos.
Otrobanda sempre foi o lado B de Willemstaad. Nos anos 1700 até era tão importante quanto Punda mas, com o fim da escravidão, negros livres se instalaram por ali e as casas foram sendo fracionadas, os antigos quintais foram ocupados e aos poucos as ruas regulares se tornaram vielas estreitas. Essa deterioração permaneceu até o século XX, quando um holandês resolveu resgatar a região. Comprou os antigos cortiços um quarteirão deles e transformou em Kura Hulanda, uma propriedade que mistura hotel de luxo, SPA, museu, restaurante chique e cassino. O que era um bairro caído virou o ponto mais descolado da cidade e objeto de desejo para quem se hospeda na capital. A partir daí, Otrobanda renasceu. E mesmo que você não se hospede em Kura Hulanda, pode visitar o museu, o cassino ou jantar no seu restaurante bacana.
Ainda em Otrobanda, há uma fortificação bem no final do estuário, oposta ao Forte de Punda. Essa não protege um cassino, mas é uma espécie de shopping fortificado, reunindo lojas e restaurantes e uma vista muito linda da cidade.
Willemstaad é bonito, mas vamos falar sério: quem vai para o Caribe quer praia. E Curaçao tem, sim senhor.
O mais recomendável, o mais agradável e o mais comum é que você se hospede num resorts de praia e já fique ali com pé na areia. Como em outras ilhas caribenhas, Curaçao tem a opção dos resorts All-inclusives, um verdadeiro chute no pau da barraca em versão tropical. Num All-inclusive, todos os comes e bebes já estão incluídos na conta (alguns não incluem biritas, mas a maioria inclui uma seleção específica). Ou seja, você se acaba de tanto comer e beber, enquanto faz o esforço de ir do mar para a piscina (e tem bar até na piscina). Fora isso, tem a equipe de animadores que vai tentar fazer você gastar umas calorias com jogos de praia, aulas de ginástica, dança caribenha e outros congêneres. Um resort All-inclusive é, por si só uma atração e você fica facilmente enterrado nele por uma semana.
Mas, se a esbórnia de férias não lhe atrai, prefira os hotéis convencionais. Neles o café-da-manhã é incluído, e você decide onde almoça e janta. No hotel, num barco, na cidade... Invariavelmente os hotéis estão na beira de umas praia legal, e tem uma infraestrutura para você lagartear ao sol.
Tanto nos all-inclusive quanto nos convencionais, as noites são dedicadas às baladas, festas e cassino. Vá para o agito ou se jogue na cama king size. Você decide.
Ser tem uma coisa que o Caribe é show são as opções de mergulho. Curaçao não foge à regra. Se você gosta só de colocar a cara na água e ver peixinhos, prefira o snorkel; se você quer ir fundo na aventura, vista o cilindro e faça scuba. Em ambos os casos, com maior ou menor intensidade, o que você vai ver são corais e peixes coloridos nadando num aquário chamado oceano atlântico.
Mas se você gosta do sol quente e da brisa refrescante, uma boa opção são os passeios de barco. Eles levam de praia em praia ou para ilhas menores próximas a Curaçao, com direito a churrasco na areia e música caribenha.
Se algum momento você quiser calçar sapatos (e eu disse se), dois passeios são bem interessantes: o aquário de Curaçao, com tanques de vários tipos de peixes e área de interação com golfinhos, e as cavernas, que permitem, literalmente, ir fundo na ilha. Outra aventura é alugar um carro e passear pela ilha. A má notícia é que você vai se perder, já que as estradas são incrivelmente mal sinalizadas. A boa notícia é que você não vai longe, já que Curaçao é uma ilha e, em algum momento você vai encontrar o mar.
Se por um lado os barquinhos são uma opção de lazer em Curaçao, por outro os barcões são uma opção para conhecer a ilha. Inúmeros cruzeiros fazem escala em Curaçao, e você pode aproveitar Willemstaad e adjacências por algumas horas. É corrido, mas é uma opção. Daí sobra tempo para conhecer o A e B das Antilhas Holandesas, e ver qual é mais bonita
