Machu Picchu é, com certeza, a primeira referência que vem à nossa cabeça quando falamos do Peru. Mas, acredite, o Peru é muito mais do que esta mágica cidade encarapitada a dois mil metros de altura, visitada por 2500 pessoas por dia, ainda misteriosa e indecifrável às nossas mentes de meros viajantes. E já faz um século que ela foi descoberta pelo norte americano Hiram Bingham, sob o mato que a encobria desde o século 15. Verdade é que não dá para ir ao Peru sem visitar este patrimônio da Unesco, ao sul do país.
que em quechua, o idioma dos incas, significa "velha montanha", foi erguida provavelmente em 1450 é não é visível ou evidente a quem transita pelo vale do rio Urubamba, onde está situada. Ainda hoje o acesso é bastante intrincado. É preciso ir de trem até a base da montanha e, de lá, subir por uma estrada em ziguezague até o alto, onde a visão surpreende ainda que você já tenha visto foto e filmes. Organizada em setores, a cidade, minuciosamente construída em pedra, mostra suas diferentes e organizadas zonas: a área agrícola onde se plantava milho e batata em terraços, e a área urbana, com templos e praças (destaque para a Tumba Real e o Templo do Sol). Há quem encare Machu Picchu com misticismo mas, mesmo que sua visita tenha olhar meramente turístico, o lugar vai emocionar pelo mistério de ter sido construído e abandonado e, especialmente pela beleza das montanhas, íngremes e desafiadoras que a cercam. Cenário para muitas fotos, uma mais linda do que a outra.
Existe a opção de ir a Machu Picchu como mochileiro, numa caminhada difícil, de vários dias, cruzando vale a trilha Salkantay mas é trajeto para poucos. É preciso ter prepara físico para essa caminhada a mais de três mil metros de altitude. Para quem quer luxo, a opção é a viagem com o trem da Orient Express, hospedando-se (ou apenas tomando um chá) num hotel de luxo com vista para a mágica Machu Picchu.
Para chegar a Machu Picchu, a parada inicial será a encantadora Cusco, onde o turista geralmente chega de avião, vindo de Lima. Ali as primeiras horas serão, necessariamente, dedicadas à adaptação do corpo aos 3.400 metros de altitude. O ideal para restabelecer o físico é deitar por umas duas horas contando com a ajuda do chá de folhas de coca servido pelos hotéis. Depois é só preparar olhos e coração para ver uma das mais belas cidades da América do Sul (para os Incas o umbigo do mundo), outro entre os 11 patrimônios da Unesco do Peru. Sede o Império Inca, as construções originais foram desmanchadas no todo ou em parte e sobre elas levantadas igrejas, fortalezas, casas, quando os conquistadores espanhóis tomaram o lugar em 1533. Tremores de terra derrubaram edificações, muitas delas reconstruídas, mas muitos dos paredões incas ainda permanecem eretos, desafiando os séculos. Prepare as pernas para caminhar pelas ladeiras da cidade, por suas ruas de pedra, pitorescas e belas, e perca-se na Plaza de Armas, o ponto central da cidade, construída sobre o antigo centro do império Inca. A praça é acolhedora, com telhados e arcadas típicas do estilo colonial espanhol e a imponente Catedral, onde o destaque fica com a pintura da Santa Ceia tendo o rosto do conquistador Francisco Pizarro como Judas Iscariotes. Aprecie a arquitetura e a simpática acolhida dos cusquenhos, sentado num dos restaurantes da praça, enquanto prova alguma das muitas formas de batatas servidas no Peru como as pappas a huancayno, feitas com ovos, queijo, azeitonas, a sopa crioula ou, se tiver coragem, o cuy, porquinho da índia, típico da região, acompanhados da extravagante Inca Cola ou da Cuzqueña, considerada por muitos a melhor cerveja do Peru.
Também não deixe de fazer o circuito arqueológico, bem perto de Cusco, especialmente Sacsayhuamán, fortaleza erguida com blocos de granito superpostos e pedras de até 5 metros de altura. Se sua viagem for em junho, aproveite para assistir à Festa do Sol ou Inti Raymi. Tambomachay, também próximo a Cusco, é um sítio arqueológico composto de uma série de aquedutos, canal e várias cascatas de água que correm pelas rochas. Originalmente dedicado ao descanso do rei Inca e destinado ao culto à água - razão de ser chamado também de "Banhos do Inca". Outros locais próximos: Puca Pucara, antiga construção militar e Kenko, que, acredita-se ter sido um centro de rituais. E, em todos esses locais, assim como em Cusco, a presença do povo vestido em trajes típicos, mulheres com xales e chapéus coloridos, carregando seus filhos nas costas, mantendo uma tradição secular e mostrando o orgulho por suas raízes.
De Cusco parte o trem que chega até a Bolívia, num percurso de belezas extraordinárias. Cruzando montanhas eternamente nevadas, parando em minúsculas localidades, avistando alpacas e lhamas em altas altitudes até chegar às margens do Titicaca. Aí, prepare-se para se emocionar diante deste imenso lago são cerca de 8.300 km² , 3.821m acima do nível do mar - com 41 ilhas, onde vivem os descendentes dos incas, muitos deles tecendo gorros e agasalhos de lã de alpaca que valerá a pena comprar. A última parada é Puno, de onde partem os barcos para Copacabana, cidade na Bolívia (a fronteira fica no meio do lago) de onde se vai a La Paz, o que permite uma interessante viagem combinado os dois países.
Vindos do Brasil, turistas entram no Peru via Lima, a capital, também a porta de entrada de Francisco Pizarro, o conquistador espanhol que por lá se instalou nos idos de 1535 e cuja presença ainda se sente na Plaza Mayor ou Plaza de Armas, no centro histórico da cidade (este também Patrimônio da Unesco) onde a cidade nasceu e onde estão belos edifícios de arquitetura espanhola como o Palácio do Governador, a catedral de Lima, o Palácio do Arcebispo e edificações com muitos balcões.Também não deixe de visitar o convento de São Francisco, no centro antigo de Lima, conjunto arquitetônico do século 17 e 18. Mas Lima é mais do que uma cidade histórica; cresceu desordenadamente depois da independência, recebeu imigrantes orientais e, nos anos 1950, conheceu a modernização. Surgiram ruas e avenidas largas e belos edifícios como o Gran Hotel Bolivar, na Praça San Martin, ao estilo do Copacabana Palace. Em matéria de arquitetura, merecem destaque as casas de telhado plano porque em Lima não chove (uma garoa fina é a precipitação máxima, por lá) o que contribui para o aspecto amarronzado dos morros que a circundam. À decadência urbana dos anos 70/80, seguiu-se o processo de recuperação e Lima hoje é uma dinâmica capital com bairros agitados como Miraflores, bem próximo ao Pacífico, cheio de restaurantes, cafés, cassino, lugares para dançar. Aliás, deixe-se levar pelo contagiante ritmo em algum dos vários salsódromos (como o de La Vitoria) da cidade. Barranco é o charmoso bairro à beira mar, com muitas galerias de arte, parques à européia e o ponto de encontro de intelectuais, artistas e jovens da cidade.
Ceviche é a famosa marinada de peixe ou mariscos crus, muito temperado e super apimentado, hoje sucesso gastronômico internacional. É talvez o prato mais popular de Lima. Outra peculiaridade da gastronomia peruana é o uso de abacate, na forma de pasta, substituindo a maionese nos sanduíches, além das tradicionais empanadas. Se quiser conhecer a mistura de comida chinesa e peruana, é na Chinatown onde estão as chifas, como são chamados os restaurantes que misturam essas gastronomias. Quer brindar ao Peru? Então tem que ser com pisco sauer, o popular drinque (correspondente à nossa caipirinha) feito com limão, açúcar e pisco, a aguardente de uvas moscatel, mais clara de ovo, tudo batido e servida gelada e espumosa.
Escultura, cerâmica, ourivesaria e tantas outras manifestações artísticas dos primeiros habitantes do Peru podem ser vistas em excelentes museus, em Lima. Imperdível o Rafael Larco Herrera, no bairro de Pueblo Libre. Lá estão preciosas peças em cerâmica pré colombiana objetos utilitários, vasos, potes e também a coleção em cerâmica erótica, têxteis, adornos em ouro e prata que exemplificam muito dessa cultura milenar. No Museu do Ouro estão peças que mostram a habilidade dos primeiros habitantes em trabalhar os metais e uma bela coleção de pedras preciosas. Mais cultura? Museu de Arqueológia, Antropológia e História do Peru, e o do Tribunal da Santa Inquisição, além das catacumbas do convento de São Francisco.
Neste país com 1,2 milhão de km² há muito mais a ver. Entre as misteriosas atrações estão as Linhas de Nazca, 400 km ao sul de Lima, no deserto de mesmo nome, conjunto de geoglifos antigos, também Patrimônio da Unesco, criadas pela população que ali vivia entre 400 e 650 d.C. São centenas de figuras, de geométricas a antropomórficas e de animais (aranhas, macacos, tubarões, beija flor) descobertas nos anos 1920 e que só podem ser vistas do alto. Há vôos especiais para a observação das Linhas de Nazca. Mas não para por aí. O Amazonas peruano, por exemplo, ganha cada vez mais adeptos no turismo ecológico com destaque para a cachoeira Gocta, -com 770 metros de queda dágua em dois estágios, a terceira maior do mundo - e o contraste entre as temperaturas da floresta quente e úmida e a visão dos picos andinos. Sem falar no agitado Pacífico onde é possível surfar durante todo o ano seja em Punta Rocas, ao sul de Lima ou em Cabo Blanco, ao norte.
Nosso vizinho a oeste, orgulhosos descendente de incas, nazcas, chimus, tiahuanucos, pukaras, mochicas e huaris, são unificados pelo espanhol, (embora também falem quéchua), idioma de outro orgulho nacional, o escritor Mario Vargas Llosa. Nobel de Literatura, filho da cidade de Arequipa, segunda maior cidade do país, outro destino de cenários surpreendentes, entre vulcões altíssimos e desertos.